domingo, 25 de abril de 2010

DECÁLOGO DO ESTADISTA


Alguns textos merecem ser lidos e guardados na memória, principalmente quando tomamos decisões que nos colocam no "olho do furacão". É o próprio autor que alerta: "A liderança é um risco, quem não o assume não merece esse nome".

DECÁLOGO DO ESTADISTA


CORAGEM – O pusilânime nunca será estadista. Churchill afirmou que das virtudes a coragem é a primeira. Porque sem ela, todas as demais, a fé, a caridade, o patriotismo, desaparecem na hora do perigo. Há momentos em que o homem público tem que decidir, mesmo com risco de sua vida, liberdade, impopularidade ou exílio. Sem coragem não o fará. Os cavalos e cachorros sentem-no, por isso, derrubam ou mordem os medrosos. Mesmo longe, chega ao povo o cheiro corajoso de seus líderes. A liderança é um risco, quem não o assume não merece esse nome.

TALENTO – Não há estadista burro. Há de ser talentoso, embora possa não ter cultura. Tiradentes e Juarez não tiveram cultura, mas foram estadistas, porque tiveram talento político. Talento é o dom de acertar. A política á a arte do bem-estar e da salvação popular. Político é aquele que tem talento de conseguí-la.

CARÁTER – Na conceituação de Milton Campos, o estadista tem “a posição de suas idéias e não as idéias de sua posição”. Não é um oportunista, o que se serve da política em lugar de serví-la. Político de caráter é fiel às idéias, não à carreira. Pode perder o poder, o emprego, a liberdade, mas não renega as idéias, não perde a vergonha. .

PACIÊNCIA – A impaciência é uma das faces da estupidez. Paciência é competência para fazer a hora, não se precipitar, seguindo a receita do Geraldo Vandré: “Quem sabe faz a hora, não espera acontecer”. O estadista tem a paciência de escutar, não é falastrão. Tem a santa paciência de escutar! Como peixe, o mau político apodrece pela cabeça, morre pela boca. Um jovem desejoso de se dedicar à política foi aconselhar-se com Sarmiento: “Coma-se la lengua”, recomendou o estadista argentino. Em política deve-se evitar ao máximo proferir palavras irreparáveis.

AUTORIDADE – A autoridade é um atributo inato. É consubstancial ao político. A competência funcional é dada pelo cargo, a autoridade é pessoal, o homem público é gratificado por ela. É imantação misteriosa e sedutora, irresistível, temperada de respeito e admiração. Homem iluminado pela autoridade é visto por todos, ouvido por todos, onde está é o pólo da atração.

ORDEM – São Tomaz de Aquino disse que a ordem é as coisas no seu lugar. Para isso é preciso hierarquizar e selecionar. É a capacidade de escolher. Quem confunde as coisas, desconhece prioridades, não tem senso de ordem. O estadista discrimina o essencial e o urgente para praticá-los. Exemplo prático de decisão que não é de estadista: a ponte Rio - Niterói. Isolada é importante, mas no contexto de outras, angustiosas e inadiáveis, desrespeitou a hierarquia e a ordem. Por saber disso, é que Kennedy afirmou que “governar è dirigir pressões”. Quem cuida de coisas pequenas acaba anão. É síntese da ordem o provérbio oriental: “Como meu pai negociava com poeira foi destruído por um golpe de ar”.

ESPERANÇA – O Estadista é um arquiteto da esperança. Sua legenda é a do herói: “Estou cercado. Eu ataco”. São Lucas é o evangelista mais querido porque é o profeta da esperança, o poeta silvestre de “olhai os lírios do campo”. A política é a esperança.


Ulysses Guimarães (Rompendo o Cerco. 2ª edição, 1978. Ed. Paz e Terra. p. 34)